"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Era uma casa não muito engraçada..."



Abro a porta e não há mais espaços para mim. Alguma outra coisa ou pessoa ocupou o meu lugar. Mas o meu desgosto é só não enxergar nada além de uma casa vazia. Uma casa vazia que, mesmo vazia, não me cabe. Na sua casa, nunca teve espaço para tudo o que eu queria te oferecer. No máximo, um pouco de afeto, mas só. Só, eu fui procurar abrigo em outras vizinhanças.
A cada porta que fica entreaberta, eu espero que seja a sua. Todas as vezes em que eu olho para a sua casa, não consigo decifrar o que você quer me dizer, se é que ainda existe alguma coisa para ser dita. Alguma palavra que reorganize os nossos cômodos, que me faça querer tirar a poeira dos meus móveis.
Eu desejo que a sua casa esteja sempre limpa, mas por favor, não queria vir e bagunçar a minha. Não a suje com as suas duvidas inúteis que só vão me fazer acreditar que, um dia, você vai voltar para a nossa casa. Agora, sem nós, essa casa já não existe. Deixa-me retirar a poeira que ainda resta e os restos dos cacos espalhados pelo chão, eu não quero mais me cortar com o seu vazio.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

"O inferno por dentro."

[...]Contou os anos? Quanto tempo esperei por você? Você crescer, você mudar, você mostrar algum remorso. Você tem de querer. Embora eu queira muito, mesmo eu querendo em dobro, não há como querer por você. Só quem enfrenta longas esperas sabe como é o inferno por dentro. Eu sempre falei, um dia alguém tinha de te dizer não. Eu queria que não fosse eu, porque aí eu poderia ficar numa boa e assistir você sofrer, nem que seja calado num canto, mas sofrendo, mostrando algum arrependimento ou qualquer traço humano. Quem sabe eu até enfiaria os dedos ainda com aneis no meio dos seus cabelos e diria que tudo ficaria bem. Agora é tarde, meu anel já se foi, nem os dedos ficaram.
Só que você sempre dá um jeito de se safar. Ficar seria tolerar suas mancadas. Você precisa perder pra entender onde errou, que isso que você faz é um erro, um dos feios. Que evitar e não tocar mais no assunto não é perdão ou esquecimento. É sufocar. E eu estava sufocando, morrendo na praia em frente ao mar de rosas que você anunciou, cheia de pétalas grudadas no céu da boca, entupindo os bofes, sem ar, uma vontade constante de regurgitar de volta suas garantias de araque. Partes de mim querem ir embora, partes de mim querem ficar. Ainda não terminei de gostar de você. Mas consegui. Agora fui. Porque comecei isso querendo ser sua companheira, passei a cúmplice das suas maldades, e ficar dessa vez vai me fazer sua comparsa. Não é um ‘até amanhã’ nem ‘até breve’ e nem ‘até mais’. É um ‘até você mudar’ ou ‘até você não ser mais quem você é’. Até nunca, então.

(Gabito Nunes)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"Primavera soprando um caminho mais feliz..."

"Mordo o último biscoito e respiro estimulada. Aí está onde eu queria chegar: milhares de coisas estão subentendidas. Nas entrelinhas. O lado omisso. Quero a verdade, M.N., meu amado, escuta, entenda isso, quero a verdade. E você sugere reticências. Omissões.
 (Lygia Fagundes Telles)



É por estar perdida que eu perco também o medo do que vem a seguir. Estou mais uma vez desarmada, não espero encontrar guerra pior do que a minha aqui dentro. E as mudanças e os bons ventos, acontecem o tempo inteiro. Meus pés estão no ar, a minha mente está leve de novo. E de novo espero a brisa leve da primavera. Quero amanhecer sentindo o cheiro das flores que vão desabrochar para mim, para qualquer pessoa que esteja leve pra a nova estação. A frieza do inverno não mais me amedronta, mas sei dos espinhos que as rosas podem ter. Espero, com todo o coração, não precisar me ferir para desabrochar. A mudança das estações traz mudanças internas. Por favor, estou olhando para dentro também. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"A gente só não pode deixar de acreditar..."



Não quero mais sair por ai, pisando em um chão desconhecido, me cortando pelo caminho.