Desde sempre

"O que a memória ama, fica eterno."

(Adélia Prado)

Olha, eu sei que eu gosto de dramatizar mesmo. E escrever aquelas longas cartas dizendo que tudo tá errado, que eu não quero mais aguentar tudo isso. Que as coisas estão pesadas aqui também. Eu bem sei do conteúdo dos meus monólogos, todos são sobre você... Ou quase todos.

Eu tinha dito antes que nunca mais iria escrever sobre você. Mas você é ausência, saudade, mágoa no fundo do peito. Você é o que eu sinto, quase sempre. 

As vezes, penso que nem dói tanto, sabia? E dá um alivio na minha alma. tudo clareia, tudo flui. Mas ai, eu volto pra cima do palco e começo a reler a peça inteira. 

E sempre quero ser mais compreendida do que da ultima vez.
E sempre quero sofrer menos que da ultima vez.
E sempre esqueço menos do que da última vez.

Agora ainda não é tarde

"Não importa o quão desiludido, incrédulo e esperto você foi ficando. 

Sempre haverá uma fração dentro de você que vai acreditar." 

(G. Nunes)

Olha só, eu sei que a saudade tem apertado ultimamente e que as coisas, às vezes, não vão bem. Mas eu quero que você mentalize que vão. E que é em vão tentar olhar o mundo de cima do muro, rale o seu joelho e desça desse pedestal. Não adianta ficar escolhendo sonhos antes de dormir, a gente tem que ser feliz do lado de cá também. Eu também sei que do lá de cá as coisas não estão como a gente pensa que estão, mas eu só queria que você soubesse que eu estou do lado de cá, esperando você descer do muro. Eu seguro a sua mão, pode vir. 

Prometo não te prometer nada além do que eu posso oferecer, assim como você não precisa me dar o que não estiver ao seu alcance. Mas eu preciso de alguma coisa, agora. Eu preciso que você ande de mãos dadas comigo, porque eu sempre me perco nas suas ilusões, nas curvas que você vai fazendo pelo caminho. E olha só, eu não quero capotar de novo. É por isso que eu estou com medo da estrada, de qualquer estrada. Porque qualquer estrada é só mais uma estrada se você não está do lado de cá pra segurar a minha mão. Viu só? Eu já entendi o seu medo, e eu já estendi a minha mão...

Queira cara ou não queira

"Ande onde a onda te levar 
Se naufragou, faça desse drama sua hora..."
(Faça desse drama, 5 a seco)

Ele me falou que foi obrigado a viver um grande amor. E não pediu nem obrigado pela oportunidade. Enquanto tem gente aqui do lado, mendigando atenção. O mundo é de quem sabe olhar com os olhos dos outros e aceitar com o seu coração. Cada gesto não é só um gesto. Um gesto é a esperança de uma vida. E eu espero que isso um dia aconteça pra você também. 

Dessas coisas de ser otimistas, eu lá bem entendo. E não dói, viu? Acreditar não dói. O que dói mesmo é ver a vida em preto e branco porque as cores podem te cegar. Chega de não correr riscos. Quem não corre, continua no mesmo lugar. O meu lugar não é um lugar. Ai vem você mais uma vez com essa contradição de que não quer um amor de novela, que prefere cinema, duas horas em um roteiro diferente já está de bom tamanho. Mas me diga ai, como é não gostar de novela, e mesmo assim assistir, e mesmo assim não se reconhecer? Eu não quero ser o espelho de ninguém, não dá pra culpar todo mundo pelas obrigações que você escolheu ter. Eu, a partir de sempre, escolhi não ser igual a você. Perdi o fôlego, mas não deixei ainda de correr.