"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

sábado, 29 de outubro de 2011

Lembro de você como memória viva, que logo se mistura com outras memórias e forma um emaranhado de momentos. Continuo sem querer entender o porquê desses afastamentos, se por dentro estavamos sempre tão presentes. Sem dores e sem cicatrizes, houve uma partida?
Não lembro o momento exato em que dissemos a-deus. Ainda não era tarde.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sem pés, nem tripés

"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar. Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre? [...]Perder- se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. As duas pernas que andam, sem mais a terceira que prende. E eu quero ser presa. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas enquanto eu estava presa, estava contente? Ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira? Ou havia, e havia, aquela coisa latejando, a que eu estava tão habituada que pensava que latejar era ser uma pessoa. É? Também , também. (...)Sei que precisarei tomar cuidado para não usar superficialmente uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como capim, e a essa perna protetora chamar de uma verdade Mas é que também não sei que forma dar ao que me aconteceu. E sem dar uma forma, nada me existe. E - e se a realidade é mesmo que nada existiu?! Quem sabe nada me aconteceu? Só posso compreender o que me acontece mas só acontece o que eu compreendo - que sei do resto?
O resto não existiu."
(A paixão segundo G.H., Clarice L.)

domingo, 23 de outubro de 2011

"Faça como eu que vou como estou,
porque só o que pode acontecer...
É os pingo da chuva me molhar."
(Os pingos da chuva, Novos Baianos.)

sábado, 15 de outubro de 2011

Depois do tempo, mais tempo.

É claro que se há de continuar.
Agora, continuar é a única sensatez possível.

sábado, 8 de outubro de 2011

"Porque o coração, meu filho,
o coração tem sempre outro pensamento."
(O último voo do flamingo, Mia Couto)
Então, comecei a cuidar de tudo que não foi;
De tudo que continuou aqui,
De tudo que não pôde ser.
Não quis morrer na contra-mão.