"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Triste, Louca ou Má

"Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só"
(Francisco, El Hombre)


Eu me sinto só e aceito a minha solidão. Aceito as minhas dores que são minhas  e só minhas. Tenho tentado, com muito esforço, aceitar o que foge às minhas mãos. O que eu não vou conseguir transformar. É bobo, eu sei. E muito pretensioso. Não pense que sou dessas pessoas que querem muitas coisas da vida. Eu só quero mesmo um pouco de paz. Eu quero desacelerar. Deitar a minha cabeça no travesseiro e não teorizar a vida. Eu quero deixar de racionalizar tudo para que tudo se organize.
Eu sinto como se carregasse um grande fardo e não estivesse aguentando mais. Existir tem me doído tanto que me encolho na cama na tentativa de me proteger da insensibilidade do mundo. E, com grande contradição, chego a conclusão que estou perdendo a sensibilidade. A dor do outro me dilacera por inteira, mas a minha dor dói tanto que me anestesia. E dramatizo dizendo que não vou aguentar, que está tudo muito pesado, que não existe amparo para as minhas lágrimas.
Eu aceito a minha solidão, mas ela me faz ter vontade de partir. Hoje eu acho que sinto. Desculpa. Eu sinto muito. 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O que eu sei sobre probabilidades

"O amor era para ele o desejo de abandonar-se ao arbítrio e à mercê do outro. Quem se entrega ao outro como um soldado se deixa fazer prisioneiro tem de despojar-se previamente de todas as armas. Vendo-se sem defesas, não pode coibir-se de estar sempre a pensar no momento em que o golpe fatal será dado. Posso portanto dizer que, para Franz, amar era estar constantemente à espera do golpe que iria atingi-lo a qualquer minuto."
(A Insustentável Leveza do Ser, M. Kundera)




Eu sei que o nosso amor não é o mais possível, ou o mais provável. Mas eu nunca gostei mesmo das coisas mais fáceis. Mesmo sendo eu assim, fácil demais. Eu já tinha decidido há algum tempo que tudo isso iria ser só mais um passatempo, só mais uma história mal acabada de um romance que nunca começou. 
Como sempre, tudo saiu como eu não havia planejado. E você veio me invadindo com suas palavras que pareciam aconchego aos meus olhos. Você veio sem qualquer promessa e eu, que nunca achei que fosse digna de um amor delicado assim, fui aceitando o que me era dado sem pestanejar. Sem duvidar por um minuto que o destino poderia pedir tudo aquilo de volta, com juros e correções. Mas é que era tão bonito o amor que a gente ia costurando no nosso peito. Você ia se doando sem eu ter que pedir e, eu já estava nadando de olhos fechados entre as veias que levavam ao seu coração. Eu queria estar lá, no centro. No topo das batidas. Eu queria ser o motivo das suas batidas aceleradas. 
 Mas esqueci o que estava nos guiando o tempo inteiro: estar de olhos fechados. E abri, como quem espera enxergar uma luz para tudo aquilo que não sabíamos como suportar. Só o que aconteceu mesmo fui eu começar a cegar pelo caminho. Uma cegueira de quem já não pode voltar a fechar os olhos sem ao menos lembrar o que não viu. E agora, só o que eu queria era fechar os meus olhos novamente. E não enxergar nada além da nossa falta de promessas. Fiquei aqui. No centro das minhas esperanças dilaceradas pelo meu medo. Pelo medo de querer mais. De achar que eu não posso dar mais do que me foi pedido, muito menos aceitar além daquilo que achava ser meu. Mas me foi tomado. 
Agora, só ficaram mesmo foram os medos de não conseguir mais me perder nesse abismo que existe entre nós. Não sei se consigo mais me equilibrar na corda bamba quando já olhei para baixo. Por favor, ampara a minha queda.

Tudo é maya

Porque no amor tem dessas coisas …A gente só não pode abrir os olhos 
A gente só não pode deixar de acreditar." 
(C. Morandi)



Foi aí que eu te disse que sempre quis mesmo foi um amor bonito. Desses que a gente não precisa, mas mesmo assim resolve ficar. Os amores mais bonitos que eu já vivi foram aqueles nos quais eu não disse adeus: fui saindo assim, de mansinho, sem se importar em dar tchau, porque dar tchau não importava mais. O amor que havia ali foi murchando, foi deixando de ser amor pra ser desespero. E eu, que queria aprender a correr, tive que esperar. Até que um dia, quando a dor da espera não me fazia mais sentir muito. Tudo passou, sinto muito.
E então, fui te explicando que a coisa mais bonita do mundo é insistir quando a gente pode escolher simplesmente desistir. Que eu cansei desses laços que viram nó, e sufocam as minhas falas. Que eu cansei de esperar um amor que me complete, se não sei amar um pedaço. Amor é sobre somar. Ou soma ou melhor mesmo sumir, as pessoas costumam dizer.

sábado, 27 de dezembro de 2014

O nosso carnaval

"E agora eu já não sei mais, 
Eu quero paz..."
(L. Hermanos)

Eu. Solidão. Você. Ausência. Nós. Nós. Mais nós. Uma corda que de tão entrelaçada não serve mais nem pra sufocar. É como eu vejo o que nos tornamos. 
Éramos melhores quando estávamos perto. E reclamávamos da distancia dos nossos olhos. Agora, vejo que só o que ficou de verdade foi a distancia entre os nossos corações. E tentamos fingir que isso não está acontecendo. Que ainda somos as mesmas pessoas que juraram amor eterno para um amor que nunca existiu. A probabilidade de um amor acabar é maior quando ele esquece de começar. Esquecemos foi de ir adiante. Porque não é só de memórias que moldamos os nossos sentimentos, o amor nunca dura só pelo amor. E lá no fundo, a gente só lembra das fantasias impossíveis de nós dois. E eu só existo nas suas fantasias. 
Eu amo você porque você é o meu passado, e eu não gosto de deixar pelo caminho os meus pedaços. E para você, eu sou tudo aquilo que você nunca teve por perto... Afinal, foram essas lonjuras que nos fizeram inteiros quando antes éramos só metades em busca de nós. 
Respiro fundo para a pressa passar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

So-bre-vi-ver

"A vida sabe como ser banal, não é?"
(Gabito Nunes)


Não. As coisas não deixaram de acontecer, a vida não parou enquanto você ficou com medo de atravessar a calçada. Olhando para os lados, porque os carros continuam passando. Os carros nunca deixam de passar e nem sempre param, mesmo a gente estando com pressa para chegar ao outro lado. Mesmo quando do outro lado, esteja tudo parado. 
Para com essa mania de fantasiar a vida. Que a vida não é nada mais que a nossa ilusão de sonhar mesmo estando com os olhos bem abertos. Olha só, o era uma vez já aconteceu várias vezes. Ninguém acorda com uma coroa na cabeça, quem nasceu pra ser princesa precisa de um castelo, não de muralhas. A vida é bem mais que se esconder nos muros da realeza. Pensa bem antes de sonhar com o príncipe, afinal, o príncipe não existe. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Palavra pra lavar a alma

"Tudo se reduz a uma questão de palavras,
é preciso esquecer, eu não esqueci."
(Samuel Beckett)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O amor é tautológico

"Todas janelas abertas, 

onde eu guardei a fé... em nós"
(A fé solúvel, OTM)


O amor acontece. Disseram então que era só isso que se precisava, acontecer. Então, o amor seria sobre machucar as feridas já curadas, para cura-las novamente ou o amor não tem nada a ver com isso. Não é uma especie de masoquismo. Ainda não entendi se eu tenho que sofrer pra amar ou se só estou pegando um combo, quem foi que disse que amar é também sofrer. Se tô mitificando e mistificando o que é o amor, com esse papo que nunca me serviu de nada. O que enlouquece é não saber explicar. Ou melhor, ter mil explicações e nenhuma parecer tão convincente quanto a ideia de que o amor simplesmente acontece.
É esquecer as feridas e ir em direção ao desconhecido ou é sobre, sabendo das feridas, mesmo assim, continuar. Não sei se amor é penitencia ou salvação. 
Senhor, livrai-me dos que sabem explicar a insanidade sobre o amor. O que ainda me deixa sã é não saber. Amem. Amém

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Prende a respiração e abre bem os olhos

"Se não dá pra eu mergulhar, não fico boiando na superfície."
(Autor Desconhecido)

Eu nunca fui muito boa com as palavras. Ou melhor, eu nunca fui boa com as palavras certas. As erradas eu atiro a todo momento, esperando que alguém do outro lado agarre o que eu quero dizer até quando eu não falo nada. 
Mas você é também daquelas pessoas de superfície. E eu sempre quis o mergulho profundo. Existem águas tão claras, mas eu sempre gostei mesmo do poço. E se eu posso ir pra o fundo, eu devo ter folego suficiente pra aguentar voltar à superfície. 
 Não tenho, nunca tive. Fiquei esperando você seguir o meu caminho e me dá um pouco de ar, de tanto que você já tinha tirado o meu folego nessa vida. Mas nem assim. Para você, eu nunca estou me afogando porque eu nunca grito socorro. Mal sabe que o meu silencio é o maior grito que eu posso dar. 
Eu sei que eu não tenho muita coisa a oferecer além da minha falta de folego e mania de águas profundas. Mas já me disseram também que se a gente mergulha junto, acha mais coisa no fundo do que nas superfícies. Já não uso mais boias. Continuo querendo me afogar. E cada vez mais espero outra pessoa para me tirar o folego.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

IGNORAR

"Ignorar: v.t. Não saber / Não conhecer por experiência; não praticar: ignorar a desgraça, a mentira. / &151; V.pr. Desconhecer-se a si próprio."
(Dicionário Aurélio)


O que é ignorar? É ver e não se importar. Olhar e fingir que não viu. Ou é olhar e esquecer. Não dá importância, passar despercebido. É perceber que não vale mais o esforço, que não vale mais a pena. O que é ignorar quando não é a gente que ignora?
A ligação que não completou, a mensagem que não teve resposta... Precisava mesmo de resposta?
Ignorar é pedir menos, se desprender do que ta sufocando. Ou é só deixar fluir. Não quero, não faço, não foi dessa vez. Um beijo, até a próxima. É assim que funciona?
Somos escravos dos nossos descuidos. Ler e não responder, não é esquecer. É ignorar. Não retornar aquela ligação, não remarcar o encontro que não deu certo. Uma sirenezinha ligada o tempo todo, que diz: Você foi ignorada com sucesso.
Fui ensinada a correr até conseguir chegar ao final. Mas nunca me disseram o que teria no meio do caminho.

terça-feira, 15 de julho de 2014

"A vida sabe como ser banal" (G. Nunes)

"A gente vive muito em voz alta. 
Mas às vezes, a gente não se ouve..." 
(G. Rosa) 



 Ainda ficaram faltando tantas coisas pra eu te dizer, que até já esqueci da metade. Que até já esqueci o porque dessa raiva, desse rancor no fundo do meu peito. Memória também é esquecimento, você me disse. Eu nem queria falar demais, mas as palavras foram saltando da minha cabeça direto para o fundo do seu coração. Eu me sinto como quando a gente está correndo da chuva. Não adianta, a gente vai se molhar de qualquer jeito, mas preciso correr pra casa. Eu entendo que eu nunca consigo encaixar as coisas, e sempre volto a estaca zero. E sempre digo que não cometerei o mesmo erro outra vez, que agora não, agora eu já aprendi. E lá vou eu com meu saco de maturidade que só serve para eu saber que, eu, geralmente, o deixo guardado no canto da sala antes de ir embora. De onde eu tiro essas coisas? Eu queria saber, eu juro.