"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O que eu sei sobre probabilidades

"O amor era para ele o desejo de abandonar-se ao arbítrio e à mercê do outro. Quem se entrega ao outro como um soldado se deixa fazer prisioneiro tem de despojar-se previamente de todas as armas. Vendo-se sem defesas, não pode coibir-se de estar sempre a pensar no momento em que o golpe fatal será dado. Posso portanto dizer que, para Franz, amar era estar constantemente à espera do golpe que iria atingi-lo a qualquer minuto."
(A Insustentável Leveza do Ser, M. Kundera)




Eu sei que o nosso amor não é o mais possível, ou o mais provável. Mas eu nunca gostei mesmo das coisas mais fáceis. Mesmo sendo eu assim, fácil demais. Eu já tinha decidido há algum tempo que tudo isso iria ser só mais um passatempo, só mais uma história mal acabada de um romance que nunca começou. 
Como sempre, tudo saiu como eu não havia planejado. E você veio me invadindo com suas palavras que pareciam aconchego aos meus olhos. Você veio sem qualquer promessa e eu, que nunca achei que fosse digna de um amor delicado assim, fui aceitando o que me era dado sem pestanejar. Sem duvidar por um minuto que o destino poderia pedir tudo aquilo de volta, com juros e correções. Mas é que era tão bonito o amor que a gente ia costurando no nosso peito. Você ia se doando sem eu ter que pedir e, eu já estava nadando de olhos fechados entre as veias que levavam ao seu coração. Eu queria estar lá, no centro. No topo das batidas. Eu queria ser o motivo das suas batidas aceleradas. 
 Mas esqueci o que estava nos guiando o tempo inteiro: estar de olhos fechados. E abri, como quem espera enxergar uma luz para tudo aquilo que não sabíamos como suportar. Só o que aconteceu mesmo fui eu começar a cegar pelo caminho. Uma cegueira de quem já não pode voltar a fechar os olhos sem ao menos lembrar o que não viu. E agora, só o que eu queria era fechar os meus olhos novamente. E não enxergar nada além da nossa falta de promessas. Fiquei aqui. No centro das minhas esperanças dilaceradas pelo meu medo. Pelo medo de querer mais. De achar que eu não posso dar mais do que me foi pedido, muito menos aceitar além daquilo que achava ser meu. Mas me foi tomado. 
Agora, só ficaram mesmo foram os medos de não conseguir mais me perder nesse abismo que existe entre nós. Não sei se consigo mais me equilibrar na corda bamba quando já olhei para baixo. Por favor, ampara a minha queda.

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