"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

domingo, 3 de julho de 2011

Nas madrugadas de inverno

Sinto o cheiro da chuva e me sinto doída, porque ela me inunda. Tomo meu banho e tento tirar esse ar de nojo que está impregnado em mim e que não sai, água que não sai com nenhuma água. Acordo. Não durmo. Ando perdendo noites e ganhando palavras ao decorrer delas. Não quero dormir, porque adormecer me faz perder a lucidez. Mesmo que no sonho é onde eu me encontre mais lúcida. É no sonho que eu me reconheço inteira. E só nele eu posso me perder. Nesse quarto, com a chuva lá fora, eu nunca me acho. Paro de frente a janela e fico olhando como a chuva cai. Tento me molhar, não consigo. Eu sou a chuva que esta fria mas continua a cair. Eu sou a chuva que não para, não passa e não sabe o que é. Eu não sei ser, e não sabendo, sou. Custa aceitar, sem resignações, o fato de que eu nunca serei inteira fora de mim. Minha metade anda perdida pelo mundo e eu não consigo achá-la, nem sei se quero. Já não resisto às farpas soltas por metade do que sou, imagine a um ser inteiro, concreto. Tomei muito café e não me sinto lúcida, apesar de estar acordada. Eu ainda não despertei da mansidão que é a madrugada. Porque é na madrugada que eu me escondo. É nessa escuridão que me encaixo e pareço querer ficar ali para sempre. A claridade cega os olhos e eu não sou transparente. Muito pelo contrario, sou uma nuvem densa pronta para chover (abram seus guarda-chuvas).Não sou tempestade, mas brisa leve não posso ser.

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