"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A carta extraviada

Ela sentia muito.
Enquanto isso, a estrada seguia. O olhar fixo na linha amarela em direção ao nada. E o aperto foi crescendo daquele peito. Como sempre, só restava chorar. Chorou, igual criança. A cada soluço parecia que ia se verter em lágrimas. E foi dando a ela um desespero, uma vontade de acabar com tudo aquilo. Uma vontade de querer menos a ele. Então, a caneta parecia segurar a sua mão, que só conseguia escrever assim:

"Meu bem,
Essa é a ultima carta que eu te escrevo. Entendo que não posso mais falar em nós, porque mesmo que a mágoa tenha ficado, "nós" não existe(m) mais. E mesmo que tenha restado alguma coisa, eu preciso em que não reste. Porque, entre nós, eu sinto. E sinto muito.
Então, é melhor desistirmos por aqui. Eu até sei que você pode nunca ter tentado, mas faça um esforço para entender ou ao menos aceitar minhas ilusões. Não, eu não estou querendo culpar a você. A essa altura, a ultima coisa que eu buscaria era um culpado, até porque, eu também posso estar nessa lista.
Eu tentei não sentir, tentei não me importar, mas simplesmente não deu. Se é certo ou não, isso eu já não sei. Às vezes, sem você eu fico mais leve. O problema é que com você eu pensei que poderia voar, e caí. Talvez você nunca passe, mas eu preciso acreditar que vai passar. Eu preciso acreditar em alguma coisa além de você e do meu fracasso.
Acabei de pensar que provavelmente você nunca responda e eu vou ficar imaginando se você recebeu mesmo minhas palavras. Eu vou criar um mundo unilateral e mil explicações para não enxergar o óbvio, porque a verdade dói, e eu já cansei de me doer.
A única forma da gente dar certo é deixando o tempo passar. Eu sei dos riscos, a estrada tem muitas curvas e em alguma delas você pode encontrar um amor novinho em folha. Entendo que não podemos prometer mais nada ao outro.
Tudo bem, aceito não ter você e sei que vou continuar esperando, só não me pergunte até quando. Amanhã eu posso acordar e perceber que a espera acabou.
Fim da linha."

Um comentário:

  1. Quando se cansa, não há outro jeito...
    Perfeito! Não há outra palavra para descrever este texto.
    Amei, amei, amei!

    Um beijo.

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