"(...)Meias verdades
E muita insensatez."

(Flora Figueiredo)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Pequenas Letargias

"(...)Concordo contigo, também aconteceu comigo: o meu coração partiu. Para outro lugar." (Gabito Nunes) Dormi pela tarde e tive pesadelos horríveis. Coisas como você e eu, você sem mim, você e outro alguém. Quando pensava ter despertado, lá ia eu de novo, sonhando as mesmas coisas. Rodoviária, gente se encontrando, se perdendo; até quando? E eu, te procurando na imensidão. Como sempre, perdida nos corpos que passavam a minha frente e eu não enxergava. Custou pra achar você naquela multidão. Estava você parado, com outras malas na mão, aguardando um novo ônibus para seguir viagem. Eu fiquei só imaginando se ainda poderia te impedir de ir, mas agora eu estava longe demais. Se eu fosse de encontro a você, iria me esbarrar em muitos vultos daquelas pessoas que estão sem tempo para entender as lamentações e a falta de pressa de gente como eu. Com muita dor, eu via você colocando as bagagens no ônibus. Fui me preparando para a despedida, sozinha. A cada passo que eu dava, ia de encontro com a solidão. Despedir-me de você para encontrar a solidão. Troca justa, afinal - com você, a ilusão de companhia durava pouco. Mas acabei parando de imaginar o porquê de não ser meu aquele assento ao seu lado, fiz o que não podia para que fosse. Sinto-me aliviada mesmo com a culpa de ter deixado essa situação chegar a esse estágio. Têm poucas coisas que me fazem perder a fé. Por incrível que pareça, nunca perdi a fé em você. Mas eu não posso desejar o seu bem, sabendo que isso seria um punhal no meu peito, isso seria masoquismo, não é? Então, não desejo absolutamente nada. Continuo esperando alguma coisa que não sei exatamente o que é. É insensato pensar assim, eu sei. Cansei de ficar no centro de embarque e não seguir viagem.
"(...)Só alguém como você é capaz de causar raiva ou rancor. Muitas pessoas pousam, muitos amores possíves não vingam, muitas paixões não dão certo. Choro, me culpo, me arrependo, permito, desisto, persigo, corro, dou as costas, piso, sinto saudade, me precipito, telefono, me atraso. Sim, no mundo existem mil pessoas capazes de nos despertar amor, se a gente parar pra sentir.
Mas raiva e rancor? (Risos) Raiva e rancor só merece quem se foi sem uma explicação convincente e nunca mais sequer procurou, deixando lacunas que nenhum outro adeus até hoje teve audácia de apagar. Pra você - e não menos que alguém como você - guardei e dedico toda minha raiva e rancor. E o meu amor também."

(Só alguém como você, Gabito Nunes)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A carta extraviada

Ela sentia muito.
Enquanto isso, a estrada seguia. O olhar fixo na linha amarela em direção ao nada. E o aperto foi crescendo daquele peito. Como sempre, só restava chorar. Chorou, igual criança. A cada soluço parecia que ia se verter em lágrimas. E foi dando a ela um desespero, uma vontade de acabar com tudo aquilo. Uma vontade de querer menos a ele. Então, a caneta parecia segurar a sua mão, que só conseguia escrever assim:

"Meu bem,
Essa é a ultima carta que eu te escrevo. Entendo que não posso mais falar em nós, porque mesmo que a mágoa tenha ficado, "nós" não existe(m) mais. E mesmo que tenha restado alguma coisa, eu preciso em que não reste. Porque, entre nós, eu sinto. E sinto muito.
Então, é melhor desistirmos por aqui. Eu até sei que você pode nunca ter tentado, mas faça um esforço para entender ou ao menos aceitar minhas ilusões. Não, eu não estou querendo culpar a você. A essa altura, a ultima coisa que eu buscaria era um culpado, até porque, eu também posso estar nessa lista.
Eu tentei não sentir, tentei não me importar, mas simplesmente não deu. Se é certo ou não, isso eu já não sei. Às vezes, sem você eu fico mais leve. O problema é que com você eu pensei que poderia voar, e caí. Talvez você nunca passe, mas eu preciso acreditar que vai passar. Eu preciso acreditar em alguma coisa além de você e do meu fracasso.
Acabei de pensar que provavelmente você nunca responda e eu vou ficar imaginando se você recebeu mesmo minhas palavras. Eu vou criar um mundo unilateral e mil explicações para não enxergar o óbvio, porque a verdade dói, e eu já cansei de me doer.
A única forma da gente dar certo é deixando o tempo passar. Eu sei dos riscos, a estrada tem muitas curvas e em alguma delas você pode encontrar um amor novinho em folha. Entendo que não podemos prometer mais nada ao outro.
Tudo bem, aceito não ter você e sei que vou continuar esperando, só não me pergunte até quando. Amanhã eu posso acordar e perceber que a espera acabou.
Fim da linha."

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A pergunta era:
 Conseguirei ir adiante mesmo com passos curtos?

A resposta era a pergunta.

terça-feira, 17 de maio de 2011

"Ser, às vezes, sangra."

"Meu estado é o de jardim com água correndo." (Clarice L.) Estou tendo que sucumbir ao prazer para ter o desprazer de não querer mais a tudo isso. O veneno como antídoto. A farpa como cura para a ferida. Jogo-me da sacada do prédio e me corto por inteira, só assim poderei crescer de novo. Preciso da queda para saber que nem sempre estou no chão. Dói, fere.. às vezes, mata. Mas a gente renasce. E se deixa florir por inteiro, com alguns espinhos, mas sem folhas secas. O outono está passando, meu amor. Quero florir mesmo com o inverno batendo na porta. Porque agora, sem cobertor, a única forma de me aquecer é me abraçar. Estou me deixando doer, para que mais tarde eu possa alcançar essa paz tão desejada e tão mistificada. Onde os sons das palavras formam o silencio. O silencio que me habita e que ainda não descobri. Sinto que estou perto.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre-viver.

"Viver tem dessas coisas: de vez em quando se fica a zero. E tudo isso é por enquanto. Enquanto se vive."
(A via crucis do corpo, Clarice L.)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A-d-i-a-n-t-e

"Só o amor é luz ,
e há de estar daqui Até alto e amanhã Quem fica com o tempo Eu faço dele meu E não me falta o passo, coração" (Horizonte distante, Los Hermanos.) Porque hoje, eu não to conseguindo pensar em nada além do que me vai acontecer. E continuo com muito medo. Medo de não dar certo, medo de me perder nesse abismo que eu pareço estar caindo.Mas eu não quero cair, meu Deus. Não deixe que eu tenha caído. Não me deixe enveredar por esses caminhos que nunca tem volta, mas que saída também não há. Sinceramente, chega um momento em que se não desistimos pelo cansaço, acabamos desistindo por conta do esquecimento. Eu segui essa estrada me esquecendo do que estava sendo seguido. E agora, no meio dela, não sei onde quero chegar. Só sei que quero, e que além de tudo, preciso chegar a um lugar. Mas qual? Ao me deparar com essa esquina, me dou conta de que o que vem a seguir pode não ser tão interessante assim. Pois é, continuo no dilema. Continuar e me deixar ser cortada ou parar e apodrecer? Mas amar não é cortar os supérfluos. Sendo assim, que caminho é esse cheio de espinhos que tenho seguido e que cada vez que eu tento me aproximar de algum horizonte, acabo ficando mais distante? É, deve existir mesmo um abismo entre nós dois.

terça-feira, 10 de maio de 2011

“Tentou voltar ao primeiro susto, mas percebeu que este jamais se bastaria em si. Impossível, pois, voltar ao impacto primeiro, que era um nada de exigência não-doída porque desconhecia a si mesma. A compreensão que atingindo, doía. Nesse doer, ela começava a ser, imprecisa e vaga.” (Caio F.)
"A gente vai ficando acuado, medroso, paranóico: eu não quero ficar assim, eu não vou ficar assim. Por isso mesmo estou indo embora. Não tenho grandes ilusões" (Caio F.)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

E a estranha sensação de não ter um caminho para seguir. Hoje, abri um espaço enorme para a insegurança. Por favor, alguém cuide de mim.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Átimo

E a cada instante, eu não me acho. Eu não sou. Pra onde eu estou indo? Alguém me indique alguma direção. Porque eu não consigo continuar assim, sem norte.. Eu pensei que fugindo, os problemas iriam embora. Eles também fugiram...Só que desta vez, comigo. E essa sombra que não se afasta, nem fica. Eu sei que ela não se esconde, mas também não se mostra. Tudo fica nas entrelinhas e não quero mais ler esse texto,não quero mais saber como vai ser esse final, que eu já até sei de cor. Eu não sei porque eu continuo nesse suicídio lento. Lento e dolorido. Só eu saio partida, quero dizer, só eu não consigo sair. Minha cabeça dói. Estou tentando canalizar essa dor pra algum lugar, porque quando a gente não sente nada, é ai que se dói por inteira. Eu estou tentando sentir. Mas cansei de tentar. Eu cansei de tudo, mas ainda continuo. E por que, meu Deus? Estou tentando abrir as portas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre as leis

"E pela lei natural dos encontros,
eu deixo e recebo um tanto..."
(Os Novos Baianos)
Talvez nada daquilo fosse mesmo verdade. Porque, de uma forma ou de outra, nada é em si verdade... Ainda mais agora, em que toda aquela autoconfiança foi se esvaindo. E as dúvidas iam sufocando, pouco a pouco. Pouco a pouco, ela fazia dessa confusão mais uma operação matemática. Somava, diminuía, dividia... Mas não dava pra multiplicar, não. Multiplicar era quase impossível, porque ela não aprendera assim. Aprendera de outro jeito, e desse outro jeito ela não largara nunca. Sempre foi mais viável, mais cômodo dividir e somar, que multiplicar. Naquela cabeça, não tinha como multiplicar dois corações. E também não tinha como multiplicar um coração partido. Coração partido é divisão, e era só isso que ela sabia fazer. Acontece que, em algum momento seria necessário aprender a lei da multiplicação. Porque quando se multiplica o amor, se têm amor em dobro. E pensando assim, é bem mais justo. É melhor multiplicar “dois vezes dois”, do que somar 3 + 1. Embora desse o mesmo resultado, alguém sempre tinha que doar mais na cabeça dela. E ela já tinha doado demais (e se doído demais). Muitos pedaços tinham ido embora. E mesmo que infelizmente, ela aprendera que aquela matemática nunca dera certo... Mesmo que por dentro, parecesse um pouco lógica... Abandonar aquele pensamento era abandonar a si mesma. E ela já se abandonara há muito tempo. Tinha demorado um tempo para achar-se de novo, não correria esse risco novamente. Não, de novo, não. E gritava, mesmo quando ninguém ouvia.